O Web Summit, realizado em Lisboa, não é um evento de mobiliário. É um palco mundial onde se observa, quase em tempo real, como a tecnologia está a redefinir o trabalho, as empresas e a forma como tomam decisões.
A edição deste ano deixou um alerta claro: a Inteligência Artificial deixou de ser novidade e passou a ser a infraestrutura invisível que impulsiona o trabalho moderno.
E quando a forma de trabalhar muda, os espaços precisam de acompanhar essa transformação. Para arquitetos, designers de interiores, responsáveis de facilities e empresas em Portugal, isso tem consequências muito concretas.
1. IA como “novo colega”: o trabalho torna-se mais cognitivo
A IA não substitui o trabalho humano – substitui a repetição. O que sobra exige mais capacidade mental: analisar, decidir, criar, coordenar.
Isto expõe um problema comum em muitos escritórios: o obstáculo não é o espaço em si, mas a forma como obriga as pessoas a trabalhar.
Se o trabalho se torna mais intelectual, os espaços devem:
- proteger a concentração;
- reduzir fricções diárias;
- oferecer zonas de foco imediato.
Um escritório com má acústica é como um restaurante barulhento: mesmo com boas ideias no “menu”, a experiência torna-se cansativa.
2. O híbrido veio para ficar: o escritório tem de merecer a deslocação
O Web Summit confirmou o que se sente em Portugal: o trabalho híbrido consolidou-se como norma.
As pessoas já não vão ao escritório por obrigação, mas pelo valor que recebem: interação real, colaboração, inspiração, identidade.
A questão deixou de ser:
- “Quantos postos cabem no espaço?”
e passou a ser:
- “O que ganhamos quando a equipa está fisicamente junta?”
E a mensagem repetida no evento foi direta: não é tendência — é o novo critério de decisão para empresas e projetos.
3. Sobrecarga cognitiva: o escritório deve ser um antídoto
Chamadas, reuniões híbridas, notificações, mensagens, múltiplas plataformas. A sobrecarga mental é hoje o risco silencioso do trabalho.
E muitos espaços não ajudam — amplificam o problema.
Um mau layout não se nota no primeiro dia… mas sente-se todos os dias.
Projetar sem estudar o uso real do espaço é como comprar óculos sem medir a visão: funciona, mas cansa, limita e reduz eficiência.
Os escritórios mais eficazes em 2026 serão os que:
- tratam a acústica como prioridade;
- incluem zonas de descompressão mental;
- utilizam a luz como ferramenta cognitiva, não decorativa.
Por vezes, uma única divisória acústica altera mais do que muitas reuniões sobre “redução de distrações”.
4. Identidade e percepção: o espaço fala antes da marca
No Web Summit falou-se muito de confiança e credibilidade.
Ao longo de mais de vinte anos de projetos, há algo que se mantém verdade: o espaço comunica quem é a empresa mesmo antes de qualquer conversa.
Uma receção mal concebida é como um website lento: perde público antes de começar.
Em 2026, o escritório será cada vez mais:
- a primeira impressão da organização;
- uma expressão cultural;
- uma prova discreta de profissionalismo.
Não é apenas “mobiliário”. É performance.
5. A velocidade do mercado exige espaços adaptáveis
A IA acelera decisões, reorganizações e ciclos de mudança. A flexibilidade deixou de ser desejável para se tornar essencial.
Muitos projetos falham por um motivo simples: ninguém avaliou a velocidade com que o espaço precisa de mudar.
A solução não é remodelar constantemente, mas criar sistemas capazes de evoluir sem recomeçar do zero.
Na prática, isto significa:
- micro-zonas multifuncionais;
- salas que alternam entre foco e colaboração;
- layouts pensados como cenários, não como fotografias estáticas.
Os estúdios mais eficientes têm um ponto em comum: medem tudo — fluxos, ruído, luz, ocupação real.



Conclusão: o que o Web Summit realmente revela para Portugal
O Web Summit não determina que mesa escolher. Revela a velocidade a que muda o trabalho e as expectativas das equipas.
Os escritórios portugueses de 2026 não serão necessariamente maiores. Serão mais inteligentes.
O verdadeiro desafio já não é criar espaços bonitos, mas ambientes que aumentem clareza, colaboração e bem-estar produtivo.
Muitas empresas mudam o mobiliário para resolver problemas que, na realidade, estão na forma como o espaço é utilizado.
Às vezes, um ajuste de iluminação, uma mesa regulada corretamente ou uma melhoria acústica transformam toda a experiência de trabalho.
Isto não é futurismo. É design eficaz. E quem agir agora estará na frente em 2026.
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